Neurobiologia do desejo (libido)
O desejo pode ser definido como um estado mental criado por quaisquer estímulos externos que induzam urgência em participar de uma atividade sexual.20 As manifestações de desejo aumentado incluem pensamentos ou fantasias sexuais, além da motivação para iniciar ou disposição para ser receptivo à atividade sexual. É útil considerar 3 aspectos não mutualmente exclusivos do desejo sexual: impulso, motivação e crenças ou valores.
O impulso sexual tem raízes biológicas e parece ser mediado pela ação excitatória da dopamina e pelos efeitos moduladores dos esteroides sexuais junto ao sistema mesolímbico do cérebro.28 Os processos corticais de ordem superior tendem a exercer influências excitatórias e inibitórias sobre os centros corticais inferiores. A dopamina intensifica o impulso sexual e o desejo de continuar a atividade sexual, depois de a estimulação sexual ter sido iniciada. Estes efeitos são inibidos pela serotonina. O estrógeno parece exercer um efeito permissivo discreto, enquanto a testosterona e a progesterona parecem influenciar o início da atividade sexual e a receptividade à abordagem do parceiro, respectivamente.28 As concentrações séricas de prolactina aumentam após o orgasmo, tanto nos homens como nas mulheres, sendo que a hiperprolactinemia crônica está associada a uma libido diminuída em ambos os sexos.29Estas observações sugerem que a prolactina pode ser um fator regulador que sinaliza para os centros do sistema nervoso central (SNC) envolvidos no início ou controle do comportamento sexual. Embora as vias sexuais em mulheres ainda necessitem de elucidações adicionais, foi constatado que os agonistas de alfa-MSH estimulam seletivamente os comportamentos de solicitação em fêmeas de ratos, bem como intensificam o desejo e estimulam a ereção em homens com disfunção erétil psicogênica.27
A motivação sexual é alimentada pela antecipação de um risco ou recompensa associados ao início ou à participação em uma atividade sexual. Os incentivos são diversos e podem incluir: sentimento de proximidade em relação ao parceiro; proporcionar ou sentir prazer sexual; alívio de tensão; engravidar; ou trocar favores sexuais por presentes tangíveis ou intangíveis. Ao contrário, a expectativa (com base em experiências negativas passadas) de dor ou lesão resultante da atividade sexual atua como um dos principais fatores de desestimulação.
As crenças ou valores incluem a personalidade de cada um e os fatores culturais que exercem influências excitatórias ou inibitórias sobre o desejo de engajamento em uma atividade sexual. A motivação e as crenças ou valores provavelmente afetam a libido via influências excitatórias e inibitórias corticais sobre estruturas corticais inferiores. Estudos adicionais são necessários para elucidar as vias específicas envolvidas.
Os conhecimentos sobre neurofisiologia básica da libido ajudam a predizer os efeitos de várias substâncias exógenas. Como esperado, a libido parece ser aumentada pelos intensificadores de dopamina, como as anfetaminas e os inibidores de recaptação de noradrenalina-dopamina (NDRI) (p. ex., bupropiona). Ao contrário, as substâncias que diminuem a atividade da dopamina diminuem a libido: são exemplos os bloqueadores do receptor de dopamina D2 e os inibidores seletivos de receptação de serotonina (ISRS). A hiperprolactinemia (causada pelos macroadenomas hipofisários, lactação ou uso dos conhecidos agentes antipsicóticos típicos), a intoxicação com agentes depressores do SNC (p. ex., álcool) e o uso de antiandrógenos também diminuem a libido.
Felizmente, a libido diminuída não precisa ser relegada a uma mulher com vida sexual insatisfatória. Muitas mulheres cujo nível de desejo espontâneo está diminuído ou ausente preservam a capacidade de excitação e até de orgasmo, mediante uma forte motivação cognitiva ao engajamento na atividade sexual e com auxílio de técnicas de estimulação sexual habilidosas.
http://www.medicinanet.com.br/conteudos/acp-medicine/5802/sexualidade_feminina_avaliando_a_satisfacao_e_abordando_os_problemas_%E2%80%93_jennifer_potter.htm
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